Tuesday, 8 July 2014

Brasil 1 Alemanha 7:Humilhação para a eternidade

A gente faz música / E não consegue gravar / A gente escreve livro / E não consegue publicar / A gente escreve peça / E não consegue encenar / A gente joga bola / E não consegue ganhar". Roger Moreira, nos anos 80', escreveu a letra de "Inútil", cuja música seria adaptada pelos "Ultraje a rigor", em pleno período da ditadura militar. 

Hoje, 30 anos depois, os dois últimos versos do excerto acima citado estão mais actuais que nunca e a memória do que se passou no Estádio Mineirão perdurará enquanto perdurar a evidência de que este Brasil não estava preparado para lidar com a adversidade.

A tragédia não foi algo anunciado previamente. Nada fazia projectar um resultado tão desnivelado, numa meia-final de um campeonato do mundo organizado pelo Brasil, assim como nada fazia prever que o Titanic ou o Poseidon fossem ao fundo.

Demérito total do "escrete" de Scolari e mérito sem grande esforço ou suor de uma máquina bem oleada é a conclusão a extrair de uma partida que terminou aos 45'+2' da primeira parte, com o apito do mexicano Marco Rodríguez a indicar o caminho dos balneários a uma equipa desolada e a um conjunto com um brilhozinho intenso no olhar.

Para trás ficou uma das mais inesperadas etapas inaugurais de um encontro decisivo para a final de um Mundial. Tão inesperada foi a voracidade da entrada dos "canarinhos", com um país inteiro do seu lado, como a resposta germânica, que transformou o sonho brasileiro num pesadelo de dimensões colossais.

A capacidade fria e precisa da finalização da "Mannschaft" era sobejamente conhecida e foi certamente analisada por "Felipão". Mas o futebol apoiado e organizado da Alemanha originou um canto, aos 11'. Muller surgiu solto no "coração" da área, os brasileiros foram todos atrás de uma ameaça invisível chamada Hummels e o avançado do Bayern inaugurou o activo.

A caixa de Pandora tinha sido aberta sem recurso a acto forçado. Foi só introduzir a chave correcta. A partir dos 11', nada seria como dantes.

Klose, aos 23', fez história, ao tornar-se no melhor marcador dos campeonatos do mundo (16 golos) e a tendência do apuramento do primeiro finalista começava a ficar definida. Dois minutos depois, Kroos fazia o 3-0 e as lágrimas já escorriam, abundantes, do rosto de um país que não adivinhava a devastação que se adensava no horizonte negro, carregado de nuvens. A tempestade consumou-se um minuto depois, com Kroos a "bisar". E, aos 29', Khedira concretizou uma "manita" impensável.

Ao intervalo, dava pena só de ouvir a melodia doce, celestial e angelical que a FIFA insiste em colocar como base de fundo aos lances principais das primeiras metades das partidas do campeonato do mundo. E mais pena dava ver a inferioridade evidente espalmada no rosto de Júlio César, David Luiz, Dante, Marcelo, Fernandinho, Hulk, Fred.

Ainda houve segunda parte. Para Joachim Low poder dizer aos seus jogadores para dosearam esforço e pensarem na final de domingo. Schurrle, lançado durante a segunda metade, ainda fez o 0-6 e o 0-7, começando a definir o resultado mais "gordo" registado numa "meia" de um Mundial.

Só Óscar conseguiu o famigerado golo de honra já em período de compensação. Tarde demais.

Voltando à letra de "Inútil", acrescentemos mais três versos: "A gente joga a bola / Toma de goleada / E não consegue ganhar o Mundial". E o "efeito Neymar", com a pressão de vencer e de dar uma final à "jóia" e aos 200 milhões de brasileiros, acabou por escapar ao controlo dos homens de terras de Vera Cruz.

O "hexa" do Brasil fica adiado. O "tetra" da Alemanha - a melhor selecção da actualidade, sem sombra de dúvidas - está mais perto.

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