Tuesday, 22 July 2014

Iraque. "Ali é o nosso berço enquanto cristãos e tudo está a desaparecer"

Os cristãos tinham até sábado para se converter ao Islão ou abandonarem Mossul, a segunda maior cidade do Iraque. Os que ainda estavam na cidade fugiram para Qaraqosh, mas até aí a perseguição dos radicais islâmicos continuou, atingindo, no domingo, um mosteiro do século  IV que pertence à  igreja católica siríaca, revelou esta terça-feira a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Catarina Martins, da AIS em Portugal, explica que "as milícias do Estado Islâmico do Levante e do Iraque invadiram este mosteiro e obrigaram os monges a partir".
Como estão, aliás, a fazer com todos os cristãos: "as famílias cristãs têm sido obrigadas a deixar tudo para trás e a fugir porque estas milícias obrigam-nas a converterem-se ao Islão ou a pagarem um imposto, que ninguém sabe muito bem de quanto será".
Em Mossul, a data limite terminou no fim-de-semana. "Os cristãos fugiram todos", deixando tudo para trás, diz Catarina Martins.
As milícias marcaram as casas dos cristãos com sinais para controlar os seus movimentos.
UE sem tomada de posição
A situação dramática levou esta terça-feira o Patriarca Católico Caldeu de Bagdad, D. Louis Sako, a apelar à comunidade internacional para que olhe para a situação dos cristãos iraquianos.
O apelo feito esta terça-feira pelo Patriarca de Bagdad é dirigido também aos muçulmanos moderados do Iraque, que acreditam na convivência entre religiões.

"O livro sagrado, o Corão, ordena os crentes a respeitarem os inocentes e nunca lhes pediu para tomarem os haveres, os bens, as propriedades de outros pela força. O Corão ordena refúgio para a viúva, para o órfão, para o pobre e para os que não têm arma, e respeito 'para o sétimo vizinho'", escreve D. Louis Sako (em PDF).

Catarina Martins lamenta o desinteresse generalizado em relação ao Iraque, a começar pela União Europeia: "Há duas semanas um grupo de três bispos, incluindo D. Sako, o Patriarca caldeu, esteve em Bruxelas, falou-se que ia haver uma comunicação de Bruxelas na semana passada e até hoje ainda não houve nada, não há uma tomada de posição. O que os bispos iraquianos nos estão a pedir é que dêmos a conhecer o que se está a passar para que a comunidade internacional possa fazer alguma coisa por este povo".
A AIS falou no fim-de-semana com o bispo auxiliar de Bagdad, que se manifestou "horrorizado" com a situação.
D. Shlemon Warduni nunca imaginou que isto pudesse acontecer numa cidade como Mossul, conta Catarina Martins. "O Iraque era uma região onde as religiões foram convivendo ao longo dos séculos".

0 comments:

Post a Comment

Share

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More