Paulo Luís de Castro, com Lusa
As comissões de trabalhadores da RTP e da Agência Lusa solidarizaram-se hoje com os trabalhadores da ERT estação pública de televisão e rádio grega, cuja emissão foi cancelada às 23h de ontem (21h em Lisboa), seguindo uma decisão drástica do Governo anunciada poucas horas antes.
Numa decisão tomada pelo Governo grego por pressão dos elementos da troika, presentes em Atenas para apreciarem a evolução do programa de apoio financeiro ao país, a emissão televisiva do canal público foi cortada de repente e os ecrãs ficaram negros, na sequência da desativação do emissor principal, situado numa montanha nos arredores da capital. A operação foi desencadeada pela polícia, segundo revelou uma fonte sindical da ERT.
Em causa estarão cerca de 2700 postos de trabalho. A intenção do Governo grego é extinguir a ERT e criar uma nova empresa de TV e rádio públicas mas de menor dimensão. O sinal de TV foi cortado mas as emissões da ERT continuam via internet.
Para a comissão de trabalhadores da RTP, o encerramento do canal deixa a Grécia como único membro da União Europeia sem serviço público de informação e permite calar uma estação que "apenas fora silenciada, temporariamente, durante a ocupação nazi".
Classificando a medida como um "golpe de mão", a comissão diz que os argumentos utilizados para a decisão - o custo de operação - são "bem conhecido(s) em Portugal". O órgão representativo dos trabalhadores da RTP destaca ainda a solidariedade dos trabalhadores das outras estações do país, privadas, que anunciaram uma greve de seis horas, ao mesmo tempo que os funcionários da estação pública permanecem no local "com o propósito declarado de continuarem a emitir".
"Não queremos para nós uma RTP encerrada. Somos todos gregos, porque nos solidarizamos com os nossos colegas da ERT e porque temos os olhos postos na sua luta e nos ensinamentos que dela se devem extrair", garantem ainda os trabalhadores da RTP.
Também a comissão de trabalhadores da Agência Lusa manifestou "total solidariedade" aos funcionários da televisão e rádio públicas gregas.
"A Comissão de Trabalhadores da Lusa lamenta que a austeridade seja aplicada desta forma contra organismos vitais para a democracia de qualquer país, como é o caso da estação de televisão do Estado grego, pois a manutenção do serviço público de notícias garante não só a pluralidade e a difusão dos acontecimentos de interesse coletivo, mas também o acompanhamento do quotidiano das populações nas mais variadas geografias, salvaguardando desta forma o direito da sociedade em estar informada".
Entretanto, a União Europeia de Rádio e Televisão (UER) solicitou hoje ao Governo grego que anulasse a decisão de encerrar a ERT. O presidente da UER, Jean-Paul Philippot, e a sua diretora-geral, Ingrid Deltenre, escreveram ao primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, solicitando-lhe "que use todos os seus poderes para anular imediatamente esta decisão", indica a UER em comunicado.
No seu texto, a UER sustenta que "a existência de serviço público e a sua independência a respeito do Governo estão no coração das sociedades democráticas"".
Apesar de integrarem o Governo, os socialistas do PASOK e o principal partido da oposição, o Syriza, já manifestaram a sua oposição à medida. O líder do Syriza, Alexis Tsipras, considera a decisão governamental um "golpe de Estado".
Para o presidente do principal sindicato dos assalariados da ERT, Panayotis Kalfayanis, a situação ontem ocorrida "parece mais de um governo de Ceausescu do que de uma democracia".
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